quinta-feira, 17 de outubro de 2013

uma nova versão para um antigo texto... o antigo caso de Maria Rita

A capa do Jornal O Popular de ontem, destacava a seguinte matéria: "12 prefeitos goianos na cadeia" e logo abaixo da manchete:"fraudes em licitações somariam 15 MI em 2013" e abaixo disso: "preço de referencia $29.17, preço pago pela prefeitura 58,00"

Agente vê muito isso acontecer, mas a mim, enoja mais um caso em que o objeto da corrupção, é a saúde publica.
ha algum tempo, escrevi uma matéria sobre um dia que passei em um cais:



Maria RitaDia 8 de maio, Domingo das mães, desde a noite anterior,eu tava meio mal com uma nova crise de bronquite, fui obrigado pela minha mãe, a ir ver um médico, por coincidência, minha tia pegou uma caxumba, e fomos todos ao cais do Candida de morais, a realidade desses lugares a maioria de vocês deve conhecer, por tanto, não vou falar disso, quero relatar uma experiência vivida por mim, minha tia, e minha mãe naquele dia.

Mas antes que o clima fique pesado demais, tenho uma boa noticia, o parque multirama vai se tornar o maior parque publico do Brasil.

A reconstrução do Parque Mutirama conta com investimentos de R$ 55,6 milhões, sendo 45,2 milhões do Ministério do Turismo (MTur), por meio do Prodetur Nacional e o restante é de procedência do tesouro municipal. 

Depois dessa bela noticia começo a contar a historia de uma mãe e uma filha.

Ao chegar no cais, percebi uma mulher chorando e aparentando um certo descontrole, não me interessei muito em saber motivo, estava em um ambiente em que as vezes, pode acontecer esse tipo de coisa, absolutamente normal, ninguém fica controlado quando alguém que gosta tá passando muito mal, ou está prestes a morrer, por tanto não dei muita importância, mas logo percebi que a mulher de que falo não estava só descontrolada, era coisa maior que descontrole, e comecei a prestar atenção, ela falava no celular com alguém e dizia “a Maria Rita ta tendo convulsão ...”


Essa foi a parte que eu ouvi, não ouvi muito, mas o suficiente, julguei que aquela mulher deveria ser a mãe dessa tal Maria Rita, pela idade da mãe julguei também que a menina deveria ter uns 10 talvez 12 anos de idade, e que com certeza tava muito mal.

Depois de alguns minutos, entrei para a sala onde ia esperar a médica me chamar pra ser atendido, essa mulher que falava ao telefona sobre a filha doente estava lá. Doía olhar o desespero dela, andava de um lado para outro dizendo coisas sem muito nexo, invocando o nome de Deus, e as vezes parecia rezar bem baixo, sentava no banco por uns dez segundos, e depois se levantava de novo pra novamente andar sem rumo, por pura agonia, chorando muito. 


Entrei pra ser atendido, e me chamou atenção que a medica olhava pra fora algumas vezes, e quando viu a mãe dessa menina passar mais uma vez pela porta do consultório que se manteve aberta o tempo todo, ela disse:

“Com criança é sempre mais difícil.”
Percebi que ela falava da mesma criança,cuja mãe,tava louquinha da vida lá fora, ai perguntei.
"O que a filha dela tem?"

"Crises convulsivas, uma atrás da outra."

Insatisfeito com a resposta, indaguei novamente à medica.


"Mas ela tá muito mal?"

A resposta foi tão seca quanto curta.
"Tá!"
Ela falou meio revoltada sobre uma ambulância que levaria a menina em um lugar que tenha UTI , que depois descobri que era no materno infantil, mas se retratou dizendo que a menina estava em boas mãos, que tinha médicos o tempo todo do lado dela, e que a demora dessa ambulância não ia piorar nada no quadro dela não. 

Novamente, não me satisfiz com o que a medica me falou, ela com certeza não queria se comprometer e acabou se enrolando, estava visivelmente revoltada e se contradisse por isso.
Não posso dizer em que setor eu estava quando me disseram o que eu vou falar agora, mas em dado lugar, uma pessoa que trabalha nesse cais me falou, que quando a menina chegou lá, o cais parou por trinta minutos, toda a equipe foi mobilizada pra salvar a menina, mas não tinham estrutura suficiente para atendê-la adequadamente, logo precisaram de uma ambulância para levar a menina para um lugar em que a menina tivesse os recursos que o caso dela exigia. Estavam Naquele momento, esperando a 2 horas pela bendita ambulância.  
Eu perguntei se a demora poderia matar a menina, e novamente uma resposta tão seca quanto curta.

"Pode."

E depois de um momento ela completou:

"tem horas que da vontade de sair distribuindo porrada nesse povo pra ver se alguém faz alguma coisa, pra ver se alguém se meche."

Quando ela terminou meu atendimento, me disse pra eu não falar nada do que havia ouvido pra o pessoal no hospital, por isso não digo quem era essa pessoa, mas ficou claro para mim nesse dia, que gente morre por desinteresse na saúde pública, é mais fácil, mais rentável desviar dinheiro, que comprar ambulâncias novas com capacidade de atender Maria Rita, é mais fácil deixar Maria Rita morrer do que fazer alguma coisa... é mais lucrativo deixar Maria Rita à míngua, tratar Maria Rita da muito trabalho, e custa muito caro, e quando digo "Maria Rita", falo não só dessa criança que estava doente no cais, falo de muitas pessoas que necessitam muito do serviço de saúde, que Obama em sua visita ao Brasil,tanto se interessou, o SUS que é excelente no papel, mas nunca funcionou desde que foi implantado.

Mas ainda não tinha visto Maria Rita, até a bendita ambulância chegar, Maria Rita que até então julgava ter 10 ou 12 anos, com certeza não tinha mais que 2, ela passou muito rápido com a mãe do lado chorando de desespero, a menina estava entubada e com sondas no braço para soro e outros remédios, deitada em uma maca imensa para seu tamanho, e usando frauda descartável, uns três médicos, e a mãe com ela , que a essa altura já tinha desmaiado algumas vezes, e seguia agora para um lugar onde a filha dela ia ser adequadamente tratada, não sei até agora se ela está bem ou não, não sei o desfecho dessa historia, mas rezo por Maria Rita.

O fato, é que o Multirama vai ficar lindo, grade, e vai com certeza render muitos e muitos votos, mas Maria Rita ainda vai precisar de ambulâncias novas.


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